quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O que é preconceito?

Tenho vários textos aqui, e vou postá-los até que eu crie coragem de escrever algo novo... Esse texto eu fiz a partir da proposta do ENEM de 2009.

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O que é o preconceito?


O ser humano tem um desejo imenso de classificar tudo o que vê. Grupos biológicos, períodos históricos, momentos literários... E pessoas. Altura, beleza, forma física, “raça”, religião, orientação política, orientação sexual, tribo urbana. Ninguém escapa. Devidamente classificadas (ou não), algumas pessoas vão mais além. Querem também hierarquizar as classificações. E as consequências disso são desastrosas.

É daí que vem o preconceito, que é o fato de considerar uma pessoa como sendo melhor ou pior que outra por causa das diferentes classificações que cada uma recebeu. Para muitos, é um grande desafio conviver com pessoas diferentes. Tão grande que motiva tragédias como o holocausto, no qual os nazistas executaram milhões de pessoas consideradas inferiores na tentativa de “purificar” a humanidade.

Esse ideal também passou pelo Brasil. Dom Pedro II chegou ao ponto de estimular a vinda de imigrantes europeus para branquear o povo brasileiro. Mestiços foram considerados inferiores por muito tempo: os cientificistas da época alegavam que a fusão de “raças” concentrava no indivíduo todos os defeitos de cada uma delas. Chegou um momento, no entanto, em que os brasileiros se deram conta de que eles mesmos eram mestiços. Houve, então, uma inversão do pensamento. Passou a se pensar que a mistura concentrava as qualidades de cada “raça”. O preconceito, portanto, é algo cuja existência depende de quem o tem, e pode desaparecer com uma mudança de mentalidade.

O preconceito racial ainda está vivo, embora já seja muito recriminado pela sociedade. Outros preconceitos, no entanto, encontram menos resistência e têm mais força. Um deles é a intolerância religiosa, visível, por exemplo, no ato de um pastor estadunidense que gerou protestos pelo mundo ao declarar que queimaria o Corão, livro sagrado dos muçulmanos, por causa dos atentados terroristas de onze de setembro de 2001. A homofobia também está agindo com força, e alguns homossexuais chegam a ser expulsos de casa, demitidos, agredidos e até mortos. Muitos chegam a cometer suicídio por causa das pressões.

A ignorância e o preconceito são irmãos. Qualquer preconceito é facilmente desconstruído com o diálogo: as pessoas percebem que são iguais e diferentes ao mesmo tempo. Todas têm seus medos, alegrias, tristezas e conhecimentos. Todas pagam contas, acordam cedo para ir trabalhar, saem com os amigos, têm seus questionamentos. Todas são humanas, em essência. As diferenças são pontuais e irrelevantes frente ao conjunto de características. Ninguém é só negro ou só homossexual. São inúmeras características que, entrelaçadas, formam um indivíduo.

É necessário conviver com a diferença para que a humanidade amadureça. Saber aceitar diferentes pontos de vista e formas de ver o mundo melhora a convivência entre as pessoas. Ninguém é melhor que ninguém. Ninguém é igual a ninguém. No entanto, são todos equivalentes - seres humanos...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Esqueci do blog... Vai aí pra reanimar ele um texto que eu fiz pro Natal do ano passado, mas que ainda é o que eu penso... Espero que a mensagem seja captada.

Espírito de Natal

“Em meados de novembro a cidade de Eldorado já se aclimata ao Natal. Murmúrios animados são ouvidos por toda parte, comentários nem sempre apreciativos sobre a decoração festiva dos locais públicos. É provável que a maioria dos comentários não sejam apreciativos. Mas os murmúrios certamente são de uma grande animação. O Natal! Época de dar e receber, paz e amor, presentes, presentes, presentes, Papai Noel, mais presentes, mais Papai Noel. Época de hipocrisia generalizada, que corrói os corações já muito abalados das pessoas.

O frenesi de compras, cujo clímax é nos dias 24 e 25 de dezembro (os humanos têm uma tendência perceptível a procrastinar), ocupa as mentes alienadas dos indivíduos. Descontos, promoções, ofertas, queimas de estoque, Papais Noéis descabelados e suados nos semáforos distribuindo panfletos. O comércio ferve para suportar a imensa demanda. As crianças fazem desenhos do bom velhinho, na escola, e esperam ansiosamente pelo dia 25. A imprensa questiona as crianças sobre o que pensam do dia. “Presentes”, dizem muitas. “O aniversário do Papai Noel”, dizem várias outras. “Como ele não está muito bem da cabeça, resolve dar presentes no seu próprio aniversário”. Bom pra criançada.

Nem se pensa em Jesus no Natal. Talvez um rápido pai-nosso na hora da ceia, feito por uma matriarca religiosa que logo não estará mais viva para atrasar a ceia, papagaiado pelos adultos bêbados e crianças esfomeadas que repetem as palavras sem nem sequer pensar no significado delas. O sentido comercial dominou a festa, assim como dominou os corações e as vidas dos moradores de Eldorado. A falsidade humana levada ao ápice, a alienação a níveis gritantes. Não há mais amor. Há uma mecanização do ser humano, uma reificação dele. O Natal é uma festa para comemorar a morte do ser humano.”


Rafael se escora na cadeira. Já são onze e meia da noite na redação do jornal “A informação”. Seu chefe, Cristiano, certamente não ficará satisfeito com o seu artigo. Talvez porque, apesar de ter lhe pedido uma dissertação breve sobre o espírito natalino em que a cidade está entrando, Cristiano pensava em receber algo um pouco mais positivo. “Paciência”, pensa Rafael. “Logo eu arrumo um emprego numa clínica ou hospital e sumo daqui’. Salvou seu texto e desligou o computador. Espreguiça-se e veste um agasalho cinza que trouxe de casa. Apaga as luzes da sala e entra no elevador. Pressiona o “T” e se escora no espelho trincado. Talvez uma ironia do destino acerca das máscaras corrosivas que quem se mira nesse espelho costuma usar.

Rafael Braga tem 28 anos de idade. Branco, cabelo liso e curto, estatura média. Olhos castanho-claros. Uma expressão que mescla o aborrecimento e a calma, numa harmonia quase perfeita que tende, talvez, para o lado do aborrecimento, se o observador for atento aos detalhes. Formado em Medicina, com todos os pré-requisitos preenchidos, procurava uma vaga para exercer sua profissão. Seu tio Luiz Braga, irmão de sua mãe, conseguiu-lhe um emprego no jornal local para que ele se sustentasse durante a procura. Não que Rafael tenha nascido para isso. Gostava de escrever, mas não gostava de hipocrisia. Escrever num jornal presume muita hipocrisia, o que o leva a fazer textos um pouco mais ácidos que o necessário. Os revisores praticamente reescreviam seus artigos antes de publicarem-nos. O dono do jornal certamente devia grandes favores a Luiz, pois se recusava a demitir o sobrinho dele.

Rafael entra em seu carro. É um Gol preto, presente de seu pai por ter passado no vestibular, tantos anos antes. Não que o médico se importe com a idade do carro que, para os padrões atuais, é um fóssil. Considerando que ele funciona, nada mais é importante. O trânsito, como sempre, está caótico. O fluxo de pessoas indo para os bares e boates é imenso, considerando que é uma sexta-feira. Motoristas mais alcoolizados e mais imprudentes que de costume lotam as ruas. Rafael presencia várias infrações de trânsito. É xingado por não ter furado um sinal vermelho por um homem que certamente não tem idade para dirigir e está atrasado para alguma festa. Rafael respira fundo. O rock que toca no rádio mantém suas emoções em seu devido lugar. Cantarolando a música do Red Hot Chili Peppers, segue caminho. Dá passagem a um senhor, numa rótula, que o faz um aceno de agradecimento. Sorri. Talvez o mundo não esteja assim tão perdido.

Para na garagem da sua casa. Pequena, modesta, aconchegante. Bem cuidada, sem dúvidas. Seu cachorro o recebe com festinhas animadas. Afaga o companheiro e liga a televisão. Nada de bom passando. Pra variar. Rafael frita um bife e come. Toma banho frio, por causa do calor. Coloca um pijama e se deita. Meia noite e vinte e cinco. Faz suas orações. Questiona a validade de suas orações. Vira para o lado e dorme.

“Ainda não se sabe o que causou o incêndio. O foco, dizem os bombeiros, é a casa do jornalista (formado em medicina) Rafael Braga. Possivelmente uma explosão de gás, à meia noite e quarenta dessa madrugada. O dono da casa sofreu queimaduras de terceiro grau e morreu antes mesmo de ser colocado na ambulância. O incidente também gerou a morte do cão do médico-jornalista, um labrador branco. Morreram ainda dois sem-teto que dormiam na porta da casa. A paróquia local fez uma missa dedicada à morte do médico (jornalista por hobby). O IBAMA de Eldorado fez um minuto de silêncio pelo cachorro agora há pouco. Mais notícias do incidente após um recadinho do nosso patrocinador!”

Rafael chora. O mundo está mesmo perdido. Dá um titubeante passo em direção à luz e some na eternidade.

domingo, 8 de agosto de 2010

Início

Deu vontade de ter um blog. Fiquei com vontade de falar um pouco, mesmo que ninguém esteja ouvindo. Falar pra mim mesmo. Botar pra fora. Fazer umas redações (normalmente eu morro de preguiça de fazer redação, mas se eu fizer e postar aqui também talvez eu fique um pouco mais motivado...).

Não sei se eu vou ter paciência pra manter isso aqui. Normalmente eu só escrevo quando estou triste. Estou triste agora, e nem sei o porquê. Vou colocar as emoções pra fora. Espero que funcione.